Conto "Verão de 1982" #1

18:51 Unknown 8 Comments

   
       Pessoal, hoje eu deveria postar a sexta resenha do livro As Crônicas de Nárnia, porém, não consegui acabar a leitura e como o prazo para acabar todo o livro é até dia 16, hoje e amanhã termino o livro! Enfim, o que venho postar aqui hoje é um conto autoral! Até que enfim hein, não aguentava mais esperar para postar! Como ficou um pouco grande o conto, vou postar em dua partes! Hoje posto a primeira e segunda que vem posto a próxima!
       O esquema vai ser o seguinte: todo mês vou postar pelo menos um conto - se der posto mais - e cada vez com uma "temática" diferente. Este mês o tema vai ser "Memórias do Passado" e eu convido todo mundo que ler a postagem a publicar algum conto, texto, cronica, etc. O tema pode ser este se quiserem também, vou adorar ver as diferentes visões de cada um! Ah, caso postem com o mesmo tema, coloquem o link do meu blog, tá? Assim você me ajuda com o blog também!É isso ai, espero que gostem!

Verão de 1982

       Era um belo e ensolarado dia em meados de abril, com os ramos já deixando suas folhas caírem e dando forma a um belo tapete natural. A sombra do carro se estendia pela pista, perfeitamente, como recortada de um papel cinza. Eu conseguia respirar profundamente o ar de outono, cheirando a terra umedecida devido ao forte temporal da noite passada.
       Pessoas caminhavam e viviam intensamente do lado de fora do carro. Um casal de idosos com roupas de jogging passaram pela janela, a mulher empurrava seu marido em uma cadeira de rodas, pareciam felizes; afinal, não era isso que os votos solenes de casamento diziam, amar na saúde e na doença ate que a morte os separe? Infelizmente, no tempo em que as ruas ainda eram de terra e eu ainda tinha boas lembranças, havia se formado um abismo entre mim e o mundo afora. Era um buraco imenso, capaz de camuflar meus sentimentos com sua escuridão. 
       Joanne dirigia quieta, entre tempos trocávamos um ou dois sorrisos. Passávamos por tortuosas estradas, eram-me semelhantes parcialmente, muita coisa havia mudado. JPegamos uma rotatória à esquerda e depois mudamos para à direita, só ai que lembrei para onde estávamos indo e soltei uma expressão nada educada. 
       Estávamos a caminho de uma casa que eu não via há décadas, talvez nem existisse mais. Pensei em desistir, darmos meia volta e deixar o passado em paz, mas meu inconsciente me obrigava a continuar. 
       A casa onde morei há trinta anos ainda se encontrava lá, intacta e com as luzes acesas, o que me deixou ainda mais apreensivo. Este lugar ainda conseguia encher meu presente de passado. Joanne reduziu a velocidade do carro e parou a uns quinze metros da casa. Ainda possuía a mesma cadeira de balanço na varanda na qual mamãe ficava comigo e com meu irmão; era como se eu pudesse sentir seu adocicado perfume novamente. 
       Eu havia morado ali por um tempo e por mais que eu me esforçasse não me recordava de quase nenhuma lembrança positiva. 
        - Stephen, você quer que eu vá com você? – perguntou Joanne. 
        - Não precisa. – respondi – Apenas me espere na praia, não vou demorar. 
       Desci do carro e meus pés afundavam alguns centímetros na areia fofa. Comecei a ir em direção à casa, era como se cada passo que eu desse voltasse mais ainda para o passado. Um homem velho apareceu na janela, a visão me pegou de surpresa. Nunca imaginei que o veria novamente. Parecia meu pai, eu achava, do mesmo modo como eu lembrava; cabelos penteados para trás e úmidos – agora já brancos – camiseta dentro da calca, uma sandália azul e um boné velho e surrado. 
       A praia e a casa, aquele lugar me passava alguma sensação estranha. A areia tocando minha pele novamente, depois de trinta anos, era reconfortantemente insólito. Mas não era mais um pesadelo que me deixava suado e arquejante, era real, eu sabia. Podia ouvir o som dos pássaros do último dia de verão de 1982. Eram os dois mesmos meninos que brincavam na areia, eu e meu irmão, Charlie. 
       Os castelinhos de areia de Charlie nunca ficavam firmes por muito tempo, a intrépida e sorrateira água vinha e sempre os levava. 
        - Stephen, me ajuda aqui. – ele queria conchinhas, quanto mais melhor. Elas iriam decorar seu castelo. 
        Mamãe e papai estavam dentro de casa, podíamos ouvir o leve ruído de suas vozes, porventura estivessem falando do quão belo era o pôr-do-sol. Na verdade não, isso era o que eu queria que estivessem falando. 
       O pôr-do-sol realmente se punha. Já era algo ordinário de todos os dias, mas mesmo assim cada vez mais eu contemplava com deleite o momento em que o sol desaparecia no horizonte. O céu agora não era mais claro. Tons suaves de cinza começavam a se esgueirar por entre as nuvens. Podíamos sentir o crepitar de pequenas conchinhas sobre nossos pés. Charlie já tinha mais de dez em sua camiseta e eu, apenas uma. Eu estava desalentado, agia de forma mecânica, inconsciente. 
       O cheiro suave e intenso da brisa do mar tornava o tempo mais devagar. Era tudo muito calmo e silencioso, não parecia ser um local habitado. Seria um ótimo local para um filme de romance, ou sereias, quem sabe. Ainda que o outono certamente estivesse logo ali, depois de alguns dias, o verão não iria abandonar sem luta seu domínio arduamente conquistado. 
       Há algo agradável em tardes sem sol. O tempo funesto que às vezes vinha nos liberavam das expectativas, das exigências de um dia sempre igual. Minha mãe apareceu na varanda com uma tigela na mão, sorria e aparentava estar feliz. Ela estava grávida de quatro meses, sua barriga já estava começando a aparecer. 
        - Daqui a pouco vocês entram – disse ela.
        Papai provavelmente estava sentado no sofá ordenando que mamãe lhe levasse cerveja. E se ela não o fizesse, ele lhe daria um tapa e a chamaria de imprestável. Mesmo com minha pouca idade eu sabia que ela só estava casada com meu pai por medo e não por amor, não mais.
      Minha mãe entrou e foi para a cozinha. Pude ouvir papai falando algo grosseiro para ela. Charlie achou que ele nos chamava, mas não era, apenas gritava alguma coisa inaudível. Já estávamos acostumados, toda sexta-feira havia briga. Às vezes eram por coisas tolas, como quando mamãe deixou as mesmas cortinas na parede da sala por mais de um mês. 
       - Olhe isso, ele dizia, essas merdas de cortinas estão sujas não vê? Qual o seu problema, por que é tão porca? 
       Depois das manchas roxas que ela teve que esconder com blusas de manga comprida, nunca mais fizera nada que o desagradasse, pelo menos tentava. Era impecável em tudo (uma só mancha de pano mal passado no assoalho de madeira da casa poderia provocar certamente uma discussão e depois uma pancada). Tinha um temperamento ruim, muito ruim. Não se chorava em casa, nem mamãe, nem nós. Afinal, que tipo de monstro teria coragem de bater em uma criança inocente?

Obs: Lembrando que o texto acima é autoral e não é permitido copias.

8 comentários:

  1. Você tem uma escrita envolvente e belas descrições parabéns! O blog está muito bem elaborado, foi vc quem editou?

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    1. Valeu! Foi eu sim, depois de meses mudando, acho que esta comecando a ficar como quero!
      Abraços

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  2. Olá!!
    Não sabia desse seu talento, hein! Adorei o conto e com certeza vou esperar pra ler a continuação!!
    Beijos!
    http://www.vivendonoinfinito.com/

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    1. Imagina, rsrs! Adoro escrever, serio! Se pudesse viveria disso..quem sabe um dia né? Haha Voce tambem escreve super bem!
      Beijos!

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  3. Nossa adorei o que eu vi até agora... eu quero ver o fim....
    Escrita envolvente, descrições muito ricas, mas sem exageros. Parabéns!!!
    Com certeza estarei aqui para ver o final na próxima semana.
    Bjus,

    Dani Moraes
    www.asverdadesqueopinoquioconta.blogspot.com.br

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    1. Que bom que gostou Dani! Fico feliz e agradeço o apoio!
      Beijos!

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  4. Realmente como disseram acima, que escrita envolvente, até parece um livro...
    Gostei bastante, parabens! A Segunda parte ficou otima tambem, beijos

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    1. Nossa, hoje nao durmo de alegria hahahah
      Muito obrigado!
      Abraços

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