Conto "Verão de 1982 " #2

18:17 Unknown 2 Comments


     Pessoal está é a segunda parte do Conto que postei segunda-feira passada. Espero que gostem! Ah, e o tema do mês que vem vai ser "Mundo fantástico", um conto onde tudo é possível e a lei da gravidade e dos homens não fazem o minimo sentido!

Continuação... 
      Podíamos ouvir agora alguns gritos vindos de casa.
      - Stephen, a mamãe – Charlie sabia que mamãe apanhava, ele a via chorar sozinha.
      - Fique aqui, Charlie, não saia daqui – eu disse
      Comecei a correr para casa, parecia longínquo demais, meus passos estavam pesados. Os gritos de mamãe agora ficavam mais fortes. Será que ele bateu em sua barriga?. Subi os poucos degraus e pude ver mamãe caída e papai apontava alguma coisa para ela, uma arma.
       - Não papai, não faça isso – gritei
       - Cale a boca, moleque – ele tirou a arma da direção de minha mãe e mirou em mim. 
      Meu coração ficou frio, podia sentir o gosto amargo do medo subindo pela minha garganta para ser expelido. Papai então vira a arma para baixo e atira em Bili, nosso cãozinho. Bili choramingou por várias vezes e depois ficou em silêncio. Pareciam horas, eram apenas minutos, os piores de minha vida.
      Meu pai saiu correndo e entrou no carro, esta seria a ultima vez que eu o veria. Seu olhar até tirar o carro fora o causador de muitas noites mal dormidas. Mamãe estava sentada no canto, tentava aspirar um pouco de ar da sala que parecia repleta dele há minutos.
      De uma distancia que me pareceu imensa, ouço seu soluço e vejo seus olhos fechar, por um instante pensei que não os veria abrir novamente, mas abriram. Seu corpo se contorcia de dor que parecia latejar como um sol venenoso que a adentrava. Mamãe colocava a mão sobre a barriga e chorava.
      Charlie começara a gritar quando viu Bili morto e mamãe caída. Ele entra em pânico e corre para junto de nossa mãe, que esta envolta a uma pequena poça de sangue. Tomara que não seja do bebe, pensei tomara que não.
      Chamei a ambulância e fui junto de minha mãe.
      - Vai ficar tudo bem, mamãe, fique calma – falei aos soluços
      - Meus queridos – passou a mão em nossos rostos – eu amo vocês, muito.
      Parecia agora que sua respiração finalmente começava a se tornar um pouco mais fácil. 
      - Mamãe, e o bebe? - Charlie estava chorando e preocupado. Ela passa a mão por entre as coxas e olha, era sangue.
      - Eu não sei – ela fala – eu não sei.
       Mamãe geme, sacudindo a cabeça, empurrando com os pés seus sapatos apertados. Disse que estava sentindo uma dor violenta e caibras afundando seu ventre.
Então após alguns minutos o silêncio fora irrompido pelo barulho da ambulância. Abro a porta para o pessoal da emergência entrar. Colocaram minha mãe na maca e a levaram para a ambulância. Fomos nós três para o hospital.
      Passou-se um tempo; mamãe perdera a criança e nunca mais voltamos àquela casa e nem papai nos procurou. Afinal, o nosso castelo de areia também havia sido arrastado pela onda. Tudo havia desmoronado de forma impiedosa e truculenta.
 
      Eu ainda estava imerso no passado, preso nas memórias daquele lugar.
      - Ei Stephen, responda-o – era Anna me chamando, me arrancando do passado.
      - Hein, moço, o que o senhor quer? – o homem na porta não era meu pai, e nem se parecia com ele. Era apenas mais uma peca pregada por minha mente.
      - Desculpe senhor, mas sabe algo de George White? – perguntei.
      - Esse cara morreu há alguns anos, comprei a casa em um leilão – disse o senhor com seu sotaque caipira.
      Algo dentro de mim se silenciou, uma parte da minha vida havia acabado. Agora eu sabia que papai não poderia mais machucar mamãe e nem entrar em nosso quarto à noite e nos jogar da cama.
      - Vamos para onde, Stephen? – indagou-me Rose.
      - Apenas andar Anna, apenas andar – disse.
      Apertamos as mãos e o toque de Anna em minha pele acalmou a ferida que havia dentro  de mim - uma ferida boa, mas que não deixa de ser um machucado. Começamos a andar ali mesmo, um na orla e outro na areia. Andamos sem destino e em silêncio, até que o tempo nos obrigue a parar.

Obs: Esse texto é de cunho autoral e copias não são permitidas.

2 comentários:

  1. Nossa, que escrita forte.. adorei a continuação! Você escreve muito bem, parabéns! Também me arrisco a escrever algumas coisas no meu blog, mas nada fica tão assim igual o seu rsrsrs
    Beijos, estou seguindo!
    Claliteraria

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    1. Imagina hahaha muito obrigado, serio mesmo!
      Abraços!

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